Colégio Antônio Vieira celebra 120 anos do educador e ex-aluno Anísio Teixeira

Em um ano de grandes desafios, mas também de grandes marcos, o Colégio Antônio Vieira, de Salvador – Bahia, celebra os 120 anos de nascimento de um dos seus ex-alunos mais ilustres: o educador Anísio Teixeira. Os ideais e feitos do intelectual, que assumiu importantes cargos públicos, foram decisivos para a história da Educação no Brasil. Anísio foi o primeiro a defender uma escola que promovesse nos estudantes o desenvolvimento do intelecto e da capacidade crítica, em vez de apenas estimular que os conteúdos fossem decorados. Uma percepção que levou a uma tendência de reformulação das metodologias de ensino adotadas até então. Em seus escritos, ele também revelava um sonho: uma educação pública voltada para a formação integral do sujeito, a partir da referência que ele mesmo havia vivenciado enquanto estudante do Colégio Antônio Vieira.

Série especial com entrevistas e live

Para que a comunidade educativa conheça um pouco mais sobre o ilustre ex-aluno, o Colégio Antônio Vieira preparou uma série especial com reportagem, entrevistas, postagens e até uma live no Instagram @vieira_oficial, que aconteceu na quarta-feira, 11, às 20h, com a participação da pesquisadora e professora Clarice Nunes, uma das maiores conhecedoras da obra e do legado de Anísio Teixeira. 

Anísio Teixeira e o Colégio Antônio Vieira

Mais do que constar na relação de ex-alunos ilustres, Anísio Teixeira e seus ideais em prol de uma educação de qualidade se fazem presentes no dia a dia do Colégio Antônio Vieira. “Pensar que Anísio Teixeira, como aluno vieirense, carregou em si influências, marcas, daquilo que viveu em nosso espaço educativo, nos enche de alegria, de gratidão e de profunda responsabilidade”, diz a diretora geral do Vieira, professora Mariângela Risério. “Quando conhecemos algumas das suas concepções educativas e constatamos que estas se fazem presentes em nossa proposta pedagógica, podemos nos perguntar o quanto elas foram influenciadas pela educação jesuíta recebida e o quanto, ao longo do tempo, fomos influenciados pelo seu pensamento”, completa a diretora.

Para a pesquisadora Clarice Nunes, “apresentar Anísio Teixeira como aluno do Colégio Antônio Vieira é falar das influências do humanismo cristão sobre ele numa época fundamental da sua vida como adolescente e jovem”. Ele ingressou no Colégio em 1914, onde encontrou muitos valores da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola e transmitidos, à época, “por padres professores de diferentes nacionalidades com enorme cabedal cultural e intelectual”. Na sua tese de doutorado Anísio Teixeira: a poesia da ação (2000), a professora ainda assinala que o “poder disciplinar da pedagogia inaciana teve a função de integrar as forças de Anísio (físicas, intelectuais, emocionais) na direção de uma ação na vida tecida de modo consciente, racional e espiritual”.

Licenciado em Teologia e Filosofia, o padre jesuíta Geraldo Coelho de Almeida é também um estudioso de História, sobretudo da Companhia de Jesus. Ele confirma o quanto o estudante Anísio Teixeira havia ficado impressionado com a formação do Vieira. “Anísio, cada vez mais identificado com os ideais da Companhia de Jesus, manifestou, inclusive, o desejo de ingressar na Ordem, mas o pai de Anísio mostrou-se irredutível perante a ideia de seu filho se tornar padre, mesmo que fosse jesuíta”, conta o sacerdote. Anísio acabou acatando os planos familiares, formando-se em Direito, no Rio de Janeiro, já assumindo, pouco tempo depois, cargos de relevância na área da Educação.

Influência Inaciana

“Quando foi nomeado inspetor geral de Ensino e travou contato com um ensino público que não conhecia, foi inevitável a comparação. Por oposição à cultura, à organização, à competência docente dos colégios nos quais estudara, deparou-se com a pobreza de recursos humanos e materiais, a redução da cultura, a dispersão e a desarticulação dos serviços educativos, o clientelismo político-eleitoral (a imoralidade, a corrupção e a acomodação) alimentando a ineficiência da máquina estatal. Depois deste ‘batismo’ dramático, o seu bom combate a favor da educação brasileira tornou-se história”, conta a professora Clarice Nunes. “Era um homem que incomodava com suas ideias, que buscava soluções para o povo, uma pessoa muito ativa”, completa Pe. Geraldo.

Sim, a inovação e o desejo de transformação social pela educação foram um marco nas pastas onde atuou. E não foram poucas: os registros da Biblioteca do Vieira mostram que, como assinalou a professora Clarice Nunes, Anísio Teixeira iniciou na vida pública como inspetor geral de Ensino na Bahia (equivalente a secretário de Educação), quando se destacou pela valorização da formação dos professores e inauguração de várias escolas; depois, assumiu a Direção de Instrução Pública do Distrito Federal, tendo fundado a Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro; foi, então, secretário de Educação do Rio de Janeiro, integrando o ensino da escola primária à universidade; e, novamente, secretário de Educação da Bahia, criando a Escola Parque, em Salvador, idealizada para ser um centro pioneiro de educação integral no ensino público e que foi internacionalmente reconhecida.

Projeção nacional e internacional

A projeção nacional consolidou-se ainda mais após a participação do educador baiano entre os líderes do chamado Movimento da Escola Nova. A partir de então, Anísio Teixeira passou, definitivamente, a ter sua imagem associada à defesa de uma educação socialmente transformadora, capaz de criar as bases sólidas para novos rumos de desenvolvimento das pessoas e do País – o que, posteriormente, acabou levando-o a ser perseguido pelos governos que se sucederam ao Golpe Militar de 1964. Antes, ainda assumiu grandes postos, inclusive internacionais, como conselheiro geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Anísio ainda participou dos debates para a implantação da Lei Nacional de Diretrizes e Bases e fundou a Universidade de Brasília, tendo assumido também o cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep).

Legado

A professora Mariângela Risério explica a relação atual da instituição de ensino com o legado deixado pelo educador. “As ideias de Anísio Teixeira continuam fecundando a educação do século XXI, permeando a reflexão educativa do tempo presente sobre a aprendizagem, o ensino, o conhecimento, o papel do professor e do aluno. A defesa de princípios pedagógicos nos quais ‘é o interesse do aluno que deve orientar o que ele vai aprender’, desconstrói a certeza de que a aprendizagem se daria, exclusivamente, pela memorização, para trazer a concepção de que o ato de aprender inclui a compreensão, a assimilação e a ação”, frisa a professora. “Desenvolver o pensamento crítico, aprender ideais e atitudes são princípios que sempre estiveram presentes na educação jesuíta. Uma educação marcada por valores éticos que nos coloca em comunhão com os ideais de Anísio Teixeira”. 

Fonte: Colégio Antônio Vieira

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