Consigo treinar empatia por meio da arte?

Os Colégios Jesuítas estão comprometidos com a interculturalidade e conscientes de que a arte pode ser uma importante aliada neste processo.

Cena do documentário “Minas do Futebol ” disponível no Youtube.

Ler, escutar, assistir ou, simplesmente, contemplar uma obra cultural é permitir-se ao desconhecido, seja ele contemporâneo ou de séculos passados, conterrâneo ou de outro continente. Pense que alguém, generosamente, resolveu compartilhar um segredo, um ponto de vista, sobre determinado assunto com você, mesmo não lhe conhecendo. Neste sentido, a arte, independentemente da linguagem que for – literária, teatral, audiovisual – é uma importante ponte entre desconhecidos que, muitas vezes, permitem encontros a partir do que os tornam humanos: medos, desejos, sonhos.

Se a arte permite essa aproximação com o que, em um primeiro momento, parece-nos tão diferentes, ela pode ser um importante antídoto contra o discurso de ódio, infelizmente, tão comum no contexto contemporâneo, pautado pelo medo e pela polarização. No documento Colégios Jesuítas: Uma Tradição Viva no Século XXI, o identificador global número 7 apresenta o compromisso da educação jesuíta com a interculturalidade, ou seja, compreender que o mundo não é culturalmente homogêneo, mas diverso. Ao falar de globalização, o Papa Francisco, inclusive, defende a ideia de visualizarmos a Casa Comum como um poliedro, pois é uno, mas com faces diferentes, representando a riqueza e a diversidade dos povos que a habitam.

Diante dessa conexão entre arte e interculturalidade, proponho um exercício simples que, ao responder algumas questões, pode enriquecer sua experiência como leitor, ouvinte, espectador e, consequentemente, como pessoa. Antes de partir para o exercício, vale um parêntese aqui para conceituar, brevemente, o que é essa tal de experiência. Recorro ao pedagogo espanhol Jorge Larrosa:

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. […] Outro componente fundamental da experiência: sua capacidade de formação ou de transformação. É a experiência aquilo que “nos passa”, ou que nos toca, ou que nos acontece, e, ao nos passar, nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação.

O exercício proposto ao leitor, ouvinte, espectador é: escolha um assunto que você não sente conexão nenhuma, ou que você se pergunte “o que leva uma pessoa a gostar tanto disso?” e pesquise diferentes obras que retratem a temática escolhida. Para cada obra, busque conhecer quem a produziu, de que país é o artista, quais as possíveis motivações para essa pessoa querer retratar o tema. Será que o assunto é uma paixão nacional? Um tabu? O autor resolveu contar essa história por qual ponto de vista? Ele está denunciando algo? Por quê? Qual o contexto em que a obra foi produzida? São perguntas que permitirão ampliar as conexões e os significados que a obra lhe apresenta.

Quer um exemplo disso? Futebol. Abaixo, selecionei três obras de diferentes linguagens e perspectivas:

Fechado por motivo de futebol: livro em que o uruguaio Eduardo Galeano apresenta diferentes crônicas sobre sua paixão por futebol e curiosidades geopolíticas envolvendo o esporte.

Minas do Futebol. Documentário brasileiro disponível no YouTube que retrata a trajetória de um time juvenil de futebol feminino no campeonato paulista, mostrando os desafios e os preconceitos enfrentados pelas jogadoras.

É uma partida de futebol. Música dos anos 1990 da banda brasileira Skank, que retrata as paixões e as tensões de um torcedor pelo seu time do coração quando está em campo.

Percebe como um único assunto pode ser retratado por diferentes pontos de vista? Ao conhecer novos ângulos sobre um tema que lhe parece distante, possivelmente, você encontrará interesses em comum com os autores ou personagens dessas obras. Ou seja, o desconhecido não lhe causará mais medo ou estranheza. Por meio da arte, a ponte entre os dois polos terá sido estabelecida.

Autor: Vinícius Soares Pinto

Coordenador de Midiaeducação no Colégio Medianeira, instituição de ensino jesuíta em Curitiba. É formado em Comunicação Social, com especializações nas áreas de cinema, comunicação e arte. Mestre em Comunicação e Linguagens e atual discente do Mestrado Profissional em Gestão Educacional da UNISINOS.Currículo lattes:https://lattes.cnpq.br/0301759794396238

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